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Os Servos de Maria no Brasil

O primeiro Servo de Maria do Brasil e da Américas foi Antônio Dias Quaresma (1681-1756), que adotou o nome religioso de frei Hugo. Tendo ido a Roma para obter a licença para criar uma confraria leiga na Bahia, denominada “Servos de Nossa Senhora”, lá conheceu o prior geral dos Servos de Maria, frei Pedro M. Peri.

Depois de uma breve permanência como leigo no convento de São Marcelo, foi admitido ao noviciado com 52 anos de idade e ordenado sacerdote em 1733, em Gubbio, pelo bispo servita dom Sóstenes M. Cavalli. Munido de Constituições especiais, aprovadas pelo papa Clemente XII, destinadas a uma Ordem Terceira Regular dos Servos de Maria a ser criada no Brasil, da qual havia sido nomeado superior e vigário geral, frei Hugo partiu de Roma em 1734.

Fundou um pequeno convento em Lisboa, onde chegou a receber alguns frades na Ordem, mas foi impedido pela Corte de voltar para o Brasil. Morreu na capital portuguesa em 1756, frustando o sonho de uma fundação servita no Brasil no século XVII.

No século seguinte, com o Brasil já independente, tornou-se impossível qualquer iniciativa do gênero por duas razões principais: de uma parte, a Ordem vivia um dos seus períodos mais dolorosos, sofrendo cruéis supressões na França, Áustria e Itália; por outro lado, o império brasileiro, além de vetar a entrada de religiosos estrangeiros, também proibiria, em 1855, que as Ordens já estabelecidas no país recebessem novos noviços.

Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, e a consequente separação da Igreja do Estado pelo decreto de 7 de janeiro de 1890, o catolicismo no Brasil finalmente passou a ter completa liberdade de ação.

Mas, o clero nacional do final do século XIX constatou desolado que o país inteiro contava com apenas 12 dioceses e pouquíssimo religiosos, o que o levou a pedir o auxílio de religioso europeus. Centenas de ordens e congregações, masculinas e femininas, atenderam ao apelo, lançando-se generosamente nas mais diversas frentes, conseguindo suprir em parte as carências existentes. Novas dioceses passaram a ser erigidas com espantosa velocidade.

Fruto desse contexto, também os Servos de Maria, que já haviam iniciado uma expansão ultramarina nos Estados Unidos no século anterior, por meio da bula “Comissum humilitati nostrae”, do papa Bento XV, no dia 4 de outubro de 1919, receberam a Prelazia do Alto Acre e Alto Purus, no Brasil, localizada na Amazônia ocidental, mais exatamente no então território do Acre.

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Grupo de missionários a bordo do Anselm (frei Domenico, dois missionários capuchinhos, Mons. Bernardi, Pe. Lorenzini e Pe. Mattioli)

Os frades da Província italiana da Romanha assumiram a empreitada, nomeando como patrono da nova missão São Peregrino Laziosi. Junto com o primeiro bispo prelado, Dom Próspero Gustavo M. Bernardi, os presbíteros frei Thiago M. Mattioli e frei Muguel M. Lorenzeti, e o irmão leigo frei Domingos M. Baggio, partiram para o Brasil, chegando em Manaus em 8 de abril de 1920.

Três meses depois, no dia 15 de agosto, aportaram em Sena Madureira, no Acre, onde logo se lançariam como ardor no trabalho de evangelização. Frei Miguel e frei Domingos permaneceram em Sena Madureira, frei Thiago foi para Rio Branco, e Dom Próspero iniciou suas viagens missionárias, visitando todos os recantos da Prelazia, em longas e estafantes viagens pelos rios Acre, Purus, Iaco, Abunã e outros.

Em 1921 chegou a segunda expedição missionária, da qual faziam parte frei Filipe M. Gallerani, que por longos anos esteve à frente da paróquia de Xapuri, frei Bonajunta M. Busi, que voltou logo em seguida para a Itália, frei Donato M. Gabrielli, falecido no Rio de Janeiro em 1934, e frei Egídio M. Muscini.

Junto com eles, chegou a primeira leva de irmãs Servas de Maria Reparadoras, que se juntaram aos frades, assumindo várias atividades na missão, principalmente no campo da educação.
No final da década dos anos vinte a novel Prelazia já estava mais ou menos estruturada e contava com a presença de sacerdotes nas principais cidades do território: Sena Madureira, Rio Branco, Xapuri e Brasiléia.

Foram até admitidos os primeiros vocacionados brasileiros, os irmãos cearenses de Quixadá, José e Peregrino Carneiro de Lima, enviados para a Itália em 1931. No então professado de Nepi percorreram as várias etapas da formação, completaram os cursos de filosofia e teologia e forma ordenados presbíteros em 1937. Voltando para o Brasil, exerceram seu ministério quase sempre no Acre.

Seguiu-se a fundação do convento do Rio de Janeiro, em 1924, onde a Ordem acolheria anos depois um frade de grande valor, frei Romeu M. Ribeiro Donato, nascido aos 28 de março de 1925. Como os irmãos Carneiro de Lima, também frei Romeu foi enviado para a Itália ainda adolescente e lá percorreu as etapas de formação e dos estudos e sentiu na carne as arguras da Segunda Guerra Mundial. Foi ordenado presbítero em 1948 e voltou para o Brasil em 1949. Frade incansável e de profunda espiritualidade, fundou no Rio de Janeiro várias obras sociais de educação e assistência aos pobres. Lamentávelmente, faleceu com a idade de 34 anos em 19 de julho de 1959, vítima de câncer.

A nova conjuntura permitiu também a abertura de outra casa na região sul, em Turvo, Santa Catarina, fundada por frei Hugo M. Polli em 13 de março de 1937. No ano seguinte foi erigida a Paróqui Nossa Senhora da Oração, com se numa pequena Igreja construída em 1923. Como primeiro pároco foi nomeado frei Paulo M. Venezian Benincà, que hoje dá nome à praça da Matriz.
Homem dinâmico, frei Paulo logo convenceu o povo da necessidade de construir uma igreja maior. A obra foi iniciada em 1938 e em terreno doado pela família Rômulo Pescador e foi inaugurada em 1942. Hoje, ela é motivo de orgulho para Turvo e chama a atenção por suas linhas arquitetônicas bem definidas, sua beleza e imponência.

Alguns anos depois, em 1947, graças aos esforços de frei Gregório M. Dal Monte, foi inaugurado o Seminário Menor Nossa Senhora das Dores.

Em 1951 foi construída e inaugurada a capela e, em 1961, o cardeal arcebisto do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, terciário da Ordem, benzeu a segunda grande ala do seminário, que a partir de 1972, abriga também o Colégio Servos de Maria.

Ainda hoje, esses dois estabelecimentos são motivo de orgulho para a cidade e região. Por ele passaram quase todos os Servos de Maria brasileiros e muitos jovens, hoje pais de família e profissionais liberais, que se beneficiaram da educação recebida no Seminário e no Colégio.

Já bastante estruturadas, as fundações brasileiras foram erigidas “Província do Brasil” em 1962.

Além dos conventos acima citados, a novel província mantinha conventos também em São Paulo (paróquia), São José dos Campos (casa de formação) e André da Rocha, Rio Grande do Sul (paróquia).

Em 1977, foi fundado o convento Santa Maria dos Servos, em Curitiba, Paraná, para ser casa de formação das novas gerações de grades, que se deixaram cativar pelo ideal de vida tão antigo quanto nelo de “Servir a Deus como Maria”. Hoje ali se encontram os postulantes e pré-noviços que estudam filosofi.

Em 2011, a província adquiriu uma propriedade em Teresópolis (RJ) e ali erigiu o Convento Sete Santos Fundadores para ser sede do noviciado. Recentemente a província também assumiu o Convento de Matola, Moçambique, que antes pertencia a Província Espanhola.

Atividades dos Servos de Maria no Brasil

Frei Paolino em uma de suas desobrigas

De origem mendicante e de estilo de vida conventual, a Ordem dos Servos de Maria admite, dentro dos critérios da fraternidade e da observância dos conselhos evangélicos da pobreza, obediência e castidade, uma variedade de estilos de vida e de serviços: vida ativa e contemplativa, serviços apostólicos diversificados, obras de promoção humana e assistencial, etc.

Nos primeiros anos no Brasil, os Servos de Maria se ocuparam mais com a missão que haviam recebido da Santa Sé, isto é: organizar a vida da igreja na Prelazia de São Peregrino do Acre e Alto Purus. A ação missionária consistia em criar e animar paróquias, visitar a população espalhada pelas matas e ao longo dos rios do território missionário, em longas e dificeis desobrigas, e promover a catequese e a sacramentalização do povo.

A partir do final dos anos trinta e nas décadas seguintes começaram a se ocupar também com as vocações e a formação dos futuros frades. Neste período foi fundado o Seminário Menor de Turvo, Santa Catarina (1947); o professado e noviciado de São Paulo (1951), transferidos em1956 para o “Seminário Maior das Missões”, recém-inaugurado em São José dos Campos. Foi também ampliado o Seminário de Turvo (1961), construída a casa de formação de Curitiba (1978) e, por fim, aberto o convento Sete Santos Fundadores, em Teresópolis, Rio de Janeiro (2011).

Enquanto isso, a partir dos anos cinquenta, começavam a ser fundadas várias obras de assistência social e educacional, como o Instituto Nossa Senhora das Dores, o Leprosário Souza Araújo, o Hospital Santa Juliana e o Artesanato Frei Romeu em Rio Branco, o Pensionato Nossa Senhora de Nazaré em Boca do Acre, a Colônia de Férias Santo Antônio M. Pucci, em São José dos Campos, etc.

Em tudo isso, destaque-se a ação da “Procuradoria das Missões”, criada em São Paulo nos anos cinquenta pelos freis Heitor Turrini, Romeu Ribeiro Donato, João Cardinale e João Ibatici. Tinha como objetivo arrecadar fundos para a construção e manutenção das obras missionárias e das vocações. Graças a ela, foi possível realizar todas as obras acima citadas que, em sua maioria, ainda hoje continuam prestando relevantes serviços à população.

Posteriormente, a partir da década de setenta em diante, principalmente no Acre, os frades concentraram sua atenção e esforços na evangelização, colocando-se de corpo e alma na implantação das comunidades eclesiais de base. Foram, sem dúvida, os anos mais florescentes da Prelazia do Acre e Purus.

Até os anos setenta, os frades e as irmãs Sevas de Maria Reparadoras haviam arcado com toda a responsabilidade da Prelazia do Acre, mas a partir de então outras forças foram chegando, como os padres enviados pela diocese de Lucca, Itália, os padres da Sociedade de São Tiago e as irmãs Servas de Maria de Galleazza. Graças aos esforços de tods eles, guiados pelo bispo servita Dom Moacyr Grechi, a Prelazia do Acre e Purus tornou-se autônoma e, em 1986, foi erigida Diocese de Rio Branco.

Passados 93 anos da chegada dos primeiros frades ao Brasil, hoje os Servos de Maria desenvolvem suas atividades no Acre, no sudeste e sul do Brasil, em seis paróquias, quatro casas de formação e um Colégio. Recentemente também assumiram uma nova frente missionária na África, exatamente em Matolo, Moçambique, onde são responsáveis por uma paróquia, uma casa de formação e várias obras de cunho sócio-educativo.